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terça-feira, junho 23, 2009

Homem não chora, homem não chora


Homem não chora, homem não chora...

Esse "mantra" machista ecoou em minha vida por muitos anos. Recebi de meu pai, a educação herdada de seus antepassados. Não era tão rígida, mas era ainda machista.

Não quero denegrir a figura de meu pai, que tanto amo e me educou muito além dessas lições machistas. Só estou dizendo que os homens da minha geração (além das anteriores e posteriores) foram educados nesta realidade machista.

Se eu chorasse por um motivo qualquer, quando criança, apanhava porque "homem não chora". Ainda ouvia o "mantra" de modo ainda mais enfatizado: "Homem que é homem, não chora".
Você tinha que ser um espartano, insensível à dor e às dificuldades. Tinha que bancar o "Chuck Norris", o tipo bruto, rude e implacável.

Chorar era considerável um pecado mortal, uma heresia ao machismo. Qualquer sentimento era sinal de fraqueza e fragilidade, o que era considerável algo passível de punição, porque afrontava a masculinidade (machismo). Coisa de "mariquinha".

E ainda quando eu aprontava, junto com os meus irmãos, apanhava e na hora de apanhar, os meninos tomavam o dobro de chineladas ou "cintadas" que as meninas porque para o meu pai, éramos "homens".

E o que fazer com as emoções reprimidas? E os sentimentos? E o choro escondido?
Acho que eu extravasa como muitos meninos de minha época: na base da "porrada". Éramos brigões. A "molecada" incentivava as brigas como modo de provar que um era mais "macho" que os outros.

O Brasil é, culturalmente, um país machista. Ainda é...

Felizmente, havia a contrapartida disso: as mães. Fui salvo de muitas enrascadas correndo ao regaço materno.

Cresci no equilíbrio das grandes forças: machismo e sensibilidade.

Ao me tornar adulto, descobri que o machismo não sobreviveu em mim. Descobri que ser sensível não era sinal de fraqueza. Era uma fortaleza. Felizmente chorar, quando preciso, não me envergonha.

Eu não era o "Hulk" que meu pai queria, eu era o "David Banner".

Homem não chora
Composição: Frejat / Alvin L.

Homem não chora
Nem por dor
Nem por amor
E antes que eu me esqueça
Nunca me passou pela cabeça
Lhe pedir perdão
E só porque eu estou aqui
Ajoelhado no chão
Com o coração na mão
Não quer dizer
Que tudo mudou
Que o tempo parou
Que você ganhou
Meu rosto vermelho e molhado
É só dos olhos pra fora
Todo mundo sabe
Que homem não chora
Esse meu rosto vermelho e molhado
É só dos olhos pra fora
Todo mundo sabe
Que homem não chora
Homem não chora
Nem por ter
Nem por perderLágrimas são água
Caem do meu queixo
E secam sem tocar o chão
E só porque você me viu
Cair em contradição
Dormindo em sua mão
Não vai fazer
A chuva passar
O mundo ficar
No mesmo lugar
Meu rosto vermelho e molhado...

8 comentários:

Anônimo disse...

Muito lindo seu texto querido!
Gostei muito tb do seu comentário lá no blog da Cris.
Que bom que vc gostou do meu post de ontem, pois foi vc quem me deu coragem para escrever sobre o tema.
Sua sensibilidade tb é muito cativante.
Muitos bjs pra vc.

Maggie disse...

Acabei de descobrir o seu blog, navegando no mundo da blogoesfera e gostei muito mesmo.
Adorei este texto em particular, porque para mim "homem que é homem também chora"! Chorar lava a alma e todos nós precisamos de alguns momentos para o fazer. Mas também se chora de alegria e aí é tão bom!!!
Deste lado do Atlântico, neste Portugal à beira mar plantado, nas gerações anteriores à minha tb se ensinava que "um homem não chora". Felizmente a mentalidade está a mudar e a "libertar" os homens dessas amarras desumanas.

Parabéns pelo texto e pelo blog!

Abraço transatlântico

Cris França disse...

Edu,

que texto fabuloso!
Adorei a comparação com o Hulk, adorei a forma como o seu texto flui simples e sem grandes efeitos e atinge o objetivo.

Adorei o que vc escreveu no meu blog, e escrevi que concordo plenamente com você.
Existe homem sensível sim, e louvo a eles, porque são de longe os melhores, mais humanos e menos inseguros que os outros que se escondem numa casca.

Quanto ao teu Post, tem um livro infantil, que se chama "O Menino Nito", e conta justamente isso, a história da repressão da emoção, apesar de ser uma historinha infantil, ela toca na criança, desafiando os pais machistas lógico, na questão da emoção.

Oras, e lá lágrima, dor, sofrimento, tem sexo????

pelo amor de Deus né...

Um beijo pra você e volto mais para te ler...

Mário e Cris disse...

Bom dia Edu,
Cheguei aqui atraves de outros blogs, e estou gostando muito, tanto que já vou levando o seu link,posso? Rs...que é para voltar mais vezes.

Sabe, se tem algo que me toca muito é a sensibilidade.Acho que todo ser humano tem que tentar trazer consigo a afabilidade e a doçura, que são sentimentos que cabem em qualquer lugar, em qualquer um.
E cabem especialmente nos homens. Usando o que a Cris disse:
"Homem que é homem chora".
Muito sensível e verdadeiro o seu texto.Uma bela e verdadeira reflexão para quemainda pensa que homem não pode chorar.
Um dia muito feliz para você!

Volto, com certeza,

Cris

Diário de uma alma disse...

Oi Fatima,
O seu post ficou bem melhor, rico, esclarecedor e delicado que o post original.
Sensibilidade é algo da alma, não do sexo ou do corpo.
Obrigado e boa semana
Bjs
Edu

Diário de uma alma disse...

Olá Maggie,
Obrigado por sua visita por aqui.
Concordo contigo. As lágrimas surgem da alma e lavam a alma. Desafogam emoções represadas, sejam estas de alegria ou de tristeza.
Boa semana
Bjs
Edu

Diário de uma alma disse...

Olá Cris,
Seu post que eu comentei é um grande alerta inclusive para homens mais sensíveis.
Obrigado por sua visita
Boa semana
Bjs
Edu

Diário de uma alma disse...

Olá Mário e Cris,
As quatro mãos deixaram o blog de vocês muito interessante.
Já os "linkei" também.
Obrigado por "linkar" o meu blog e pela visita.
Boa semana
Bjs
Edu

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