Saudades de meu avô Vicente...
Em minha infância ele executava com maestria, em seu violão, a música "Abismo de Rosas" do grande violonista Canhoto.
A música me parecia tão bela quanto melancólica. Triste a sua melodia.
Todas as vezes que eu a ouço (depois de tanto procurá-la pela internet para baixá-la), lembro-me de meu avô que já partiu e de minha infância tão marcada de coisas boas e ruins.
Descobri, recentemente, a história do autor e sua composição.
Canhoto tinha apenas 16 anos quando compôs "Abismo de Rosas", em 1905.
A composição era um desabafo a uma decepção amorosa, pois o autor acabara de ser abandonado pela namorada, filha de um escravo.
Canhoto realizou três gravações desta valsa: a primeira, com o nome de "Acordes do Violão", lançada no disco Odeon número 121249, em meados de 1916; a segunda, já como "Abismo de Rosas", no disco Odeon 122932, em 1925; e, finalmente, a terceira no disco Odeon 10021- a que fazia parte do suplemento de agosto de 1927, um dos primeiros da era da gravação elétrica no Brasil. Garoto (no solo de violão)
"Abismo de Rosas" é considerada o hino nacional do violão brasileiro pelo professor Ronoel Simões, uma autoridade no assunto.
Abismo de rosas (valsa, 1925) - Canhoto/Letra de João do Sul
Ao amor em vão fugir procurei
Pois tu breve me fizeste ouvir
Tua voz, mentira deliciosa
E hoje é meu ideal
Um abismo de rosas
Onde a sonhar eu devo, enfim, sofrer e amar !
Onde a sonhar eu devo, enfim, sofrer e amar !
Mas hoje que importa se tu'alma é fria?
Meu coração se conforta
Meu coração se conforta
Na tua própria agonia
Se há no meu rosto
Um rir de ventura
Que importa o mudo desgosto
Que importa o mudo desgosto
De minha dor assim, sem fim
Se minha esperança
O que não se alcança Sonhou buscar?
Devo calar hoje, meu sofrer
Devo calar hoje, meu sofrer
E jamais dele te dizer o amor se é puro
Suporta obscuro
Quase a sorrir
A dor de ver
A teus pés levar, meu coração
Que jurou,
Sempre ser, amigo e dedicado
Tenha, embora, que viver,
Tenha, embora, que viver,
Neste sonho enganado,
Jamais direi,
Que assim vivi, porque te amei !
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